Recentemente, o setor de saúde bucal da rede pública sofreu uma intensificação de campanhas, revisões de protocolos e ações de vigilância epidemiológica, impactando gestores municipais, equipes do Ministério da Saúde, coordenadores de saúde bucal e profissionais da atenção básica em todo o Brasil. Com base em dados recentes — como os resultados da pesquisa SB Brasil 2023 — e em diretrizes nacionais, este artigo explica o que está em curso, por que importa, onde se aplica, quando deve ser priorizado, quem deve atuar e como estruturar ações para avançar na prevenção e promoção da saúde bucal coletiva.

Importância da saúde bucal na saúde geral

As doenças bucais são extremamente prevalentes globalmente — estima-se que afetem cerca de 45% da população mundial, com maior incidência em regiões de menor desenvolvimento socioeconômico. :contentReference[oaicite:2]{index=2} No Brasil, a pesquisa SB Brasil 2023 destaca barreiras no acesso e elevadas necessidades de prótese entre adultos (49,6% sem prótese que necessitam). :contentReference[oaicite:3]{index=3}

Clinicamente, a cárie dentária, a periodontite e o câncer bucal não são apenas problemas isolados da cavidade oral — estão associados a comorbidades como diabetes, doenças cardiovasculares e problemas nutricionais. Logo, a promoção da saúde bucal é parte integral da estratégia de saúde pública e da atenção primária no Sistema Único de Saúde (SUS).

Como prevenir doenças bucais na rotina

É essencial que profissionais e gestores incorporem protocolos baseados em evidências:

  • Escovação com creme dental fluoretado ≥1.000 ppm duas vezes ao dia;
  • Uso de fio ou fita dental diariamente;
  • Aplicação de selantes em superfícies de permanentes de alto risco (< 18 anos) nas equipes escolares e UBS;
  • Enxaguantes com clorexidina ou flúor sob avaliação e indicação individual;
  • Promoção da fluoretação da água quando não implementada ou monitorada;
  • Ações coletivas como supervisão de escovação em escolas, visitas domiciliares e educação em saúde.

Principais mitos e fake news sobre saúde bucal

No cenário digital, diversas informações erradas circulam com potencial de prejudicar a saúde coletiva:

  • “Bicarbonato clareia os dentes e remove cáries” — sem evidência para uso generalizado; pode danificar o esmalte.
  • “Flúor faz mal para a saúde” — em níveis apropriados (por exemplo 1.000-1.500 ppm em creme dental ou água fluorada conforme diretrizes) é seguro e eficaz na redução de cárie.
  • “Raspagem enfraquece os dentes” — a técnica de remoção de cálculo é indicada em periodontite e realizada conforme protocolo, não enfraquece o dente.
  • “Clareamento caseiro é seguro” — pode causar sensibilidade, danos à gengiva e esmalte se sem supervisão profissional.

Combater essas fake news é papel dos profissionais da rede pública, orientadores escolares e coordenadores municipais de saúde bucal.

O papel da Atenção Básica e do SUS

A Política Nacional de Saúde Bucal, renovada com a Lei No 14.572/2023, afirma o papel central da atenção primária, integrada à estratégia da família e à rede de atenção à saúde bucal. :contentReference[oaicite:6]{index=6}

As equipes de saúde bucal (dentista + técnico/auxiliar) nas UBS-FAMÍLIA devem atuar em prevenção, promoção, educação, detecção precoce e regulação no nível secundário (CEOs). A articulação municipal e estadual é vital para reduzir desigualdades regionais. :contentReference[oaicite:7]{index=7}

Odontologia nas Escolas (PSE)

Programa Saúde na Escola (PSE) representa oportunidade de inserção da saúde bucal no ambiente educativo: supervisão de escovação, aplicação de flúor, encaminhamentos — fortalecendo a atenção coletiva desde cedo.

Câncer bucal: sintomas, prevenção e diagnóstico precoce

O câncer de boca, que se intensifica em campanhas como Abril Vermelho, exige atenção especial: lesão ulcerada que não cicatriza, placa branca/vermelha, dor persistente, disfagia, mudança de voz. A detecção, via equipe de UBS e odontologia, permite encaminhamento rápido para melhora no prognóstico.

Como equipes de saúde podem melhorar indicadores locais

Ferramentas práticas para gestores e coordenadores:

  • Monitorar resultados da SB Brasil e outros estudos para identificar áreas críticas. :contentReference[oaicite:9]{index=9}
  • Implementar rotina de vigilância epidemiológica odontológica — registro de cárie, perda dentária, periodontite, prótese.
  • Realizar planos de ação com metas (ex: reduzir índice de cárie em escolares em x% à medida que os 12 anos têm DMFT ≤2).
  • Capacitar agentes comunitários de saúde e professores nas práticas de saúde bucal e combate a fake news.
  • Articular com Educação para inserir ações de saúde bucal nas escolas, inclusive sob o PSE.
  • Garantir acesso oportuno aos serviços especializados via CEOs e regulação eficiente.

Recomendações práticas para profissionais e população

Profissionais devem priorizar a prevenção, educação e acompanhamento, tratando menos “problemas tardios” e mais “ação precoce”. A população deve conhecer e aderir às práticas: escovação, uso de fio, visita regular ao dentista da UBS, evitar automedicação ou intervenções estéticas sem avaliação.

Guia Prático

Para gestão, profissionais e escolas:

  • Escovação: duas vezes ao dia, 2 minutos, com creme dental fluoretado ≥1.000 ppm.
  • Troca de escova: a cada 3-4 meses ou após doença viral/gripal.
  • Técnica: escova em ângulo de 45° na gengiva, movimentos suaves, cobertura de todas as superfícies.
  • Uso de fio dental: uma vez ao dia, preferencialmente à noite.
  • Flúor: aplicar tópico na UBS em crianças de risco; verificar cobertura de água fluorada municipal.
  • Selantes: aplicar nas superfícies oclusais dos dentes permanentes de 6-15 anos em alto risco.
  • Enxaguantes: uso orientado, não substituem escovação/fio.
  • Ações coletivas em escolas: sessões de educação, supervisão, kits de higiene, parcerias com família.
  • Estratégias municipais: mapa epidemiológico local, pacto com equipes, indicadores trimestrais, comunicação comunitária, combate a fake news com materiais educativos.

Perguntas Frequentes (FAQ)

Preciso ir ao dentista mesmo sem dor?

Sim — muitas doenças bucais são silentes em estágios iniciais. A atenção preventiva evita complicações.

Escovar com bicarbonato é aceitado como alternativa ao creme dental?

Não — não existem evidências robustas que garantam segurança ou eficácia superior, e o uso indiscriminado pode danificar o esmalte.

O flúor na água municipal pode causar manchas ou demais problemas?

Quando regulado e monitorado conforme diretrizes do Organização Mundial da Saúde, a fluoretação é segura, eficaz e reduz em cerca de 25-40% o índice de cárie nos escolares.

Selantes funcionam mesmo se a criança já teve cárie?

Sim — selantes aplicados corretamente reduzem a incidência de novas lesões em superfícies vulneráveis, mesmo que entretanto a criança já tenha tido cárie.

Como posso convencer uma comunidade que “clareamento caseiro seguro” é mito?

Explique que clareamentos não controlados podem causar sensibilidade, erosão, lesões gengivais e que intervenção profissional é a única forma segura de avaliar riscos e benefícios.

CTA: Fortalecer ações de prevenção e promoção da saúde bucal é o caminho para reduzir doenças, aliviar a carga sobre a rede pública e melhorar a qualidade de vida da população. Utilize essas informações para orientar equipes, escolas e comunidades — e transforme indicadores locais com base em evidências.